Acupuntura

Acupuntura (português brasileiro) ou acupunctura (português europeu)[1] (do latim acus – agulha e punctura – colocação[2]) é uma forma de medicina alternativa e um ramo da medicina tradicional chinesa (MTC) no qual finas agulhas são inseridas no corpo do paciente. A medicina tradicional chinesa é uma pseudociência,[3][4] pois suas teorias e práticas são baseadas em crenças contrárias ao conhecimento científico.[5] A acupuntura foi declarada Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 19 de novembro de 2010.[6]

As conclusões dos principais estudos e revisões sistemáticas da acupuntura são inconsistentes, sugerindo que ela não é eficaz.[7][8] Análise das revisões Cochrane mostra que a acupuntura não é eficaz para a maioria das condições médicas para as quais é usada,[8] havendo apenas evidência de baixa qualidade sugerindo que talvez possa ser útil no tratamento de alguns tipos de dor crônica,[7] mas sem ter efeito na origem da dor, e o efeito aparente provavelmente não é causado pelo tratamento.[9][10]

Existem vários ramos de acupuntura, que tradicionalmente podem ser divididos em dois ramos principais: o que se baseia nos oito princípios da medicina tradicional chinesa, e o que se baseia na teoria dos cinco elementos.[9][11][12] Ela é geralmente usada para alívio da dor,[7] embora os acupunturistas digam que ela pode ser usada para tratar inúmeras outras doenças. Geralmente, a acupuntura é usada em combinação com outras formas de tratamento.[13]

A acupuntura é geralmente segura quando praticada adequadamente por profissionais treinados usando agulhas esterilizadas ou de uso único.[14][15] Quando aplicada corretamente, apresenta baixo grau de efeitos colaterais.[14][16] Acidentes e infecções, no entanto, podem ocorrer, e costumam estar associadas a negligência do profissional, particularmente na esterilização da agulha.[7][15] Um estudo de 2013 apontou que as infeções haviam aumentado na década precedente.[17] Os mais frequentes efeitos adversos registrados foram pneumotórax e infecções.[7] Como efeitos adversos sérios continuam a ser registrados, é recomendado que os acupunturistas sejam suficientemente treinados para reduzir esse risco.[7]

A investigação científica não encontrou evidências histológicas ou fisiológicas para conceitos tradicionais chineses como qi, meridianos e pontos de acupuntura,[18] e muitos praticantes modernos não apoiam mais a existência de uma energia vital qi ou de meridianos, os quais eram fundamentais nos sistemas iniciais de acupuntura.[19][20][21] Acredita-se que a acupuntura surgiu por volta do ano 100 a.C. na China, quando foi publicado o “Clássico interno de Huang Di”,[22] embora alguns especialistas sugiram que ela possa ter sido praticada anteriormente.[9] Ao longo do tempo, emergiram sistemas conflitantes de acupuntura no tocante aos efeitos do Céu, da Lua, da Terra, das energias yin-yang e dos ritmos corporais na efetividade do tratamento.[23] A popularidade da acupuntura flutuou na China devido a mudanças na liderança política do país, e ao uso preferencial do racionalismo ou da medicina ocidental.[22] Inicialmente, a acupuntura se difundiu para a Coreia no século VI.[24] Em seguida para o Japão através de médicos missionários. Depois, para a Europa, inicialmente através da França.[22] No século XX, conforme se expandiu para os Estados Unidos e países ocidentais, elementos espirituais da acupuntura que conflitavam com crenças ocidentais foram, ocasionalmente, abandonados em prol da simples colocação das agulhas nos acupontos.[22]

O tratamento acupunterápico consiste no diagnóstico (igualmente baseado em ensinamentos clássicos da Medicina Tradicional Chinesa) e na aplicação de agulhas em pontos definidos do corpo – chamados de “Pontos de Acupuntura” ou “Acupontos” – que se distribuem principalmente sobre linhas chamadas “meridianos” ou “canais de energia”, para obter diferentes efeitos terapêuticos conforme o caso tratado. Também são utilizadas outras formas de estimulação, estando entre as mais conhecidas a moxabustão (aplicação de calor sobre os acupontos ou meridianos).[25] A estreita relação entre o uso das agulhas e da moxa, na acupuntura, fica evidente na tradução literal da expressão que, em chinês, designa acupuntura (Zhen Jiú – 针灸), sendo Zhen (针) agulha e Jiú (灸) fogo (ação de cauterizar). O leque de opções do acupunturista, entretanto, costuma ser bem mais amplo, podendo-se estimular os acupontos e meridianos com os dedos (do-in), instrumentos específicos semelhantes a um pente de osso ou jade (gua sha), ventosas (ventosaterapia), massagens (tui na) e outras técnicas como, por exemplo, a sangria.[26][27][28][29] A acupuntura chinesa, por seu histórico milenar, acabou por desenvolver escolas específicas em países próximos da China, dando origem ao shiatsu (espécie de massagem) no Japão[30] e a estimulação nos denominados microssistemas do corpo a exemplo da auriculoterapia.

Com as tecnologias modernas, a acupuntura vem agregando recursos como a eletricidade (eletroacupuntura, ryodoraku), estimulação com laser,[31][32][33] agulhas mais seguras e práticas, cristais stiper (Stimulation and Permanency – Estimulação Permanente),[34] esferas banhadas a ouro, prata e novos materiais (substituindo as raras agulhas destes metais)[35][36][37] ou estimulação com a sucção de ventosas de vidro, material plástico ou acrílico com válvulas de pressão ou ventosas de borracha,[38][39] porém sempre observando os mesmos princípios da Medicina Tradicional Chinesa.

O raciocínio que se desenvolve na verificação e tratamento dos problemas práticos apresentados nos consultórios é baseado em conceitos ultrapassados e incompatíveis com o conhecimento científico atual,.[5] como os cinco elementos (Wu Xing), o Tao (道), o equilíbrio entre yin e yang, o fluxo de chi (“氣”) (a grosso modo traduzido como energia vital) e xué (a grosso modo traduzido como sangue), zang (traduzido como “órgão” por inexistência de palavra adequada) e fu (literalmente “oco”, mas geralmente traduzido como “víscera”).[40]

Por outro lado, os maiores entraves à sua compreensão como ciência são exatamente essas crenças tradicionais, para as quais ainda não há consenso quanto às formas de investigação experimental, além da sua referida descrição e pesquisa histórico-antropológica de práticas e textos tradicionais.[41][42][43] As aplicações mais específicas vêm se desenvolvendo com o uso da acupuntura nos diversos campos da área de saúde. No Brasil, é uma prática livre, autorizada pelo Ministério da Saúde, para ser integrado em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), sendo obrigatório apenas o título de Formação ou de Especialização, segundo o reconhecimento de cada conselho profissional.